Vou contar como resgatei um velhinho Seiko que achei no fundo de uma gaveta. Tava lá esquecido, cheio de poeira e parado. Parecia um pedaço de lixo, mas resolvi dar uma chance pra ele.

Aquele Primeiro Choque
Peguei o relógio na mão e ele parecia morto mesmo. Dava até pena. Tirei a pulseira de couro podre que tava fedendo e cheia de bolorento. Limpei a carcaça com um pano úmido e apareceu a marca: Seiko 5, aqueles velhinhos de corda automática.
Coloquei a bateria? Nem pensar! Esse é daqueles que você tem que sacudir pra ver se desperta. Balancei ele na orelha e… silêncio total. O ponteiro não dava sinal de vida.
Vamos Desmontar a Coisa
Fui pro meu cantinho, peguei a chavinha de abrir fundo de relógio e comecei a lutar. O fundo tava emperrado feito uma torneira velha. Depois de suar, consegui. Me deparei com um mecanismo sujo, cheio de um óleo velho grudento. Parecia melaço de tanto pó acumulado.
- Destapei a caixinha de ferramentas: só o básico: pinça fina, chave de remover ponteiros, pincel de cerdas macias e uma gasolina especial pra limpeza.
- Comecei a tirar tudo pra fora: primeiro os ponteiros, com muito cuidado pra não entortar. Depois o mostrador. Tava frágil que só, pensei que ia rachar.
- Mergulhei as peças no potinho: cada engrenazinha, cada mola, banho na gasolina. Saiu uma lama escura, nojinho.
A Remontagem Aprendiz
Depois de tudo limpinho e seco, veio o quebra-cabeça. Engrenagem aqui, mola acolá. Minha mão tremia um pouco, medo de pular uma peça. Lubrifiquei tudinho com óleo novinho em folha, pouquinho só.
Na hora de recolocar os ponteiros, deu trabalho. Tem que encaixar certinho no buraco. Coloquei o ponteiro das horas, dos minutos, e o segundo aquele fininho. Fechei o fundo com força, mas sem apertar demais pra não amassar.

O Milagre Aconteceu
Segurei o relógio e dei uma chacoalhada leve. E então… ouvi um tique-taque manso. Pousei ele na mesa e olhei o ponteiro dos segundos. Lá estava ele, andando devagarzinho. Fiquei parado olhando quase sem acreditar. O velhinho tinha voltado à vida!
Peguei uma pulseira Nato velha que tinha aqui, nada de luxo. Encaixei nos pinos. Coloquei no pulso e o coração acelerou quando senti aquele tique leve na pele. Horas depois, tava andando certinho, sem adiantar nem atrasar muito.
Aprendi na marra que dessas velharias jogadas no canto às vezes só falta um pouco de suor e fé. Aquele Seiko velho agora vive preso no meu pulso, contando histórias com cada tiquetaque. Nem parece a tralha encardida que eu encontrei.