Muita gente acha que relógio suíço é só pra quem tem grana sobrando, né? Coisa de ostentação.

Olha, eu mesmo pensava assim, até que um caiu no meu colo. Não, não comprei. Foi meio que uma herança torta, de um tio distante que nem conhecia direito. Chegou uma caixa em casa, e lá estava ele. Bonitão, brilhando.
Fiquei todo animado no começo.
Pensei: “Agora sim, tô chique”. Mas aí a vida real bateu na porta, sabe?
Primeiro, o medo de usar. Qualquer esbarrão parecia o fim do mundo. Ficava mais tempo na gaveta do que no pulso.
Depois, veio a manutenção. Levei numa relojoaria chique pra ver quanto custava uma revisão básica. Meu amigo… quase caí pra trás. O valor dava pra comprar um monte de coisa útil.

Aí que a coisa pegou…
Isso foi numa época que eu tava meio apertado. Tinha saído de um emprego, as contas chegando, aquela coisa toda. Igualzinho aconteceu quando me mandaram embora daquela firma de tecnologia, sabe? Aquela vez que me chutaram e eu fiquei meses batendo cabeça, mandando currículo pra todo lado, vivendo de bico pra pagar as contas. Naquela época difícil, pensei seriamente em vender o tal relógio suíço pra fazer um dinheiro.
- Fui pesquisar o valor de mercado dele.
- Conversei com uns caras que entendiam do assunto (ou pelo menos diziam que entendiam).
- Descobri que vender aquilo não era tão simples quanto eu imaginava, tinha um monte de detalhe.
Percebi que o valor dele não era só o dinheiro que eu podia pegar. Tinha a história esquisita do tio que eu nunca vi. E tinha o fato de que, mesmo sem usar direito, ele era… sei lá, um lembrete esquisito na gaveta. Um lembrete de que as coisas podem mudar de uma hora pra outra, tanto pro bem quanto pro mal.
No fim das contas, não vendi. Guardei ele de novo, lá no fundo da gaveta. Hoje, ele continua mais lá do que no meu pulso. Mas minha visão sobre esses relógios mudou completamente.
Não é só luxo, não.
Tem muita história por trás, muita complicação escondida e, principalmente, um custo de manter que não tá na etiqueta de preço. É mais um treco complicado que a gente acaba acumulando na vida, tipo aprender um monte de coisa técnica no trabalho e de repente a empresa muda tudo e você fica ali, a ver navios, tendo que aprender tudo de novo.

No fim, é isso. Uma peça bonita, sem dúvida, mas cara pra manter e que, pra mim, hoje lembra mais os perrengues que passei do que qualquer momento de “chiqueza”. Irônico, né?