Olha, vou te contar uma coisa sobre essa vida na roça. Tem dia que o vento aqui parece que vai carregar a gente junto com as galinhas. Não é brincadeira não. Um tempo atrás, eu tava precisando demais de um bom corta vento, daqueles que aguentam o tranco mesmo, sabe? Porque sair cedo pra lida com aquele vento cortando na orelha, ninguém merece.

Fui atrás de um. Vi uns modelos aí, uns que pareciam de plástico, outros que custavam os olhos da cara. Eu só queria um negócio pra me proteger do vento na hora de trabalhar, nada de frescura. Acabei achando um mais simples, meio surrado já, mas quebrava o galho.
Aí me caiu a ficha…
Mas foi aí que eu comecei a pensar… A gente se preocupa com o corta vento pra gente, né? Mas e as plantações? Elas que sofrem pra valer com a ventania forte. Aqui no sítio, a gente tava apanhando feio com isso numa área nova que a gente tinha plantado umas verduras.
O vento vinha canalizado ali num corredor entre o morro e o galpão, varria tudo. A terra ficava seca rapidinho, as mudinhas tudo esturricada, parecia que não ia vingar nada. Era um prejuízo danado, dava um desânimo…
Primeiro, tentamos levantar uma cerca de bambu trançado. Que nada! O vento passava pelas frestas com força do mesmo jeito. Depois, inventamos de colocar umas lonas. Ih, durou nem uma semana. O vento rasgou tudo, parecia papel.
Já tava quase desistindo daquela área, pensando em deixar pro pasto mesmo. Foi quando conversando com o Zé, vizinho antigo aqui, ele me deu uma luz. Falou: “Rapaz, pra quebrar vento de verdade, tem que ser coisa viva!”.
Ele explicou a ideia de fazer uma barreira verde. Usar umas plantas que crescem rápido e formam uma muralha natural. No começo, achei que ia dar um trabalho dos infernos, e deu mesmo!
A gente decidiu plantar umas fileiras de capim-elefante, que cresce alto e denso que é uma beleza. E mais pra dentro, umas mudas de sansão-do-campo. Foi uma trabalheira: preparar a terra, arrumar as mudas, plantar na distância certa, ficar de olho pra não virar praga depois.
Teve dia que eu pensei em largar mão, porque era muita coisa pra fazer, e o resultado não aparece de um dia pro outro, né? A gente fica ansioso. Lembro que bem nessa época, o trator velho inventou de dar problema, aí juntou tudo. Mas fomos insistindo, regando, cuidando.
Demorou uns meses, mas valeu cada gota de suor. A barreira cresceu, formou uma parede verde mesmo. E não é que o Zé tinha razão? O vento agora chega ali e perde a força. Dá pra sentir a diferença na hora. A terra fica mais úmida, as plantinhas estão crescendo que é uma beleza, verdinhas, sadias.
Então, o verdadeiro “corta vento” aqui da fazenda não é a jaqueta que a gente veste. É essa barreira que a gente plantou com as próprias mãos. Foi na raça, na tentativa e erro, mas funcionou. Agora a horta tá protegida. É isso, a gente vai aprendendo e fazendo.
